terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Bomba: Operação prende suspeitos de envolvimento no assassinato de Marielle Franco

De boné e camisa branca, major Ronald Paulo Alves Pereira foi detido no começo da manhã Gabriel de Paiva

Há indícios de que alvos comandem Escritório do Crime, braço armado da organização, especializado em assassinatos por encomenda


RIO — O Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), com o apoio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil,desencadeou na manhã desta terça-feira a Operação Os Intocáveis, em Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio, e outras localidades da cidade, que prendeu ao menos cinco suspeitos de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. Os presos são integrantes da milícia mais antiga e perigosa do estado.

Para a ação, que mobiliza cerca de 140 policiais, a Justiça expediu 13 mandados de prisão preventiva contra a organização criminosa. Os principais alvos da operação são o major da Polícia Militar Ronald Paulo Alves Pereira, o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe da milícia de Rio das Pedras; e o subtenente reformado da PM Maurício Silva da Costa, o Maurição.

Embora o objetivo da ação do MP-RJ seja atacar a milícia que explora o ramo imobiliário ilegal em Rio das Pedras com ações violentas e assassinatos, há indícios de que dois dos alvos de prisão comandem o Escritório do Crime, braço armado da organização, especializado em assassinatos por encomenda. Os principais clientes do grupo de matadores profissionais são contraventores e políticos.

O major Ronald Paulo Alves Pereira chega preso a Cidade da Polícia. Ele é réu no processo de homicídio de quatro jovens na antiga boate Via Show, em 6 de dezembro de 2003 Márcia Foletto / Márcia Foletto

Major PM é preso

O major Ronald Paulo Alves Pereira, de 43 anos, é investigado por integrar a cúpula do Escritório do Crime. Foi denunciado por comandar os negócios ilegais como grilagem de terra e agiotagem. É réu no processo de homicídio de jovens na antiga boate Via Show, em 6 de dezembro 2003, e vai a júri em abril deste ano. O oficial foi preso no condomínio fechado Essence, perto do Parque Olímpico, na Zona Oeste. Segundo moradores, os apartamentos mais caros valem mais de R$ 1 milhão.

Maurição, de 56 anos, é uma espécie de capataz dentro de Rio das Pedras. Dá também ordens sobre as cobranças dos imóveis da facção e controla as vans.

Também foi preso Manuel de Brito Batista, o Cabelo - que atua na quadrilha como contador e gerente armado. O cumprimento do mandado de busca e apreensão durou mais de cinco horas. Ele se negou a responder a perguntas feitas pelos promotores e por agentes da Core e da Draco. Em sua casa foram encontradas chaves de três carros, entre eles dois Corollas. Vasculhando o condomínio, os agentes conseguiram abrir a porta de um Corolla que estava estacionado próximo ao portão de acesso. Dentro dele foi achada uma pistola prateada de calibre 380 com a numeração raspada. Foram encontrados na casa de Cabelo documentos de imóveis e mais de R$ 3 mil em espécie.

Os agentes encontraram Cabelo dormindo em seu quarto, em uma casa no condomínio de luxo Floresta Country Club, na Estrada do Bouganville 442, bloco C1. Ele deu diversas informações contraditórias aos agentes. Indagado se tinha carro, ele negou. Os promotores precisaram chamar chaveiro para abrir um cofre encontrado na sala da residência. Cabelo disse que não se lembrava da senha do cofre, que somente foi aberto após a chegada do chaveiro. Mas não havia nada em seu interior. A descoberta da pistola também foi um dos motivos da demora no cumprimento do mandado de prisão e de busca e apreensão.

Os outros presos na operação são Benedito Aurélio Ferreira Carvalho e Laerte Silva de Lima. Benedito é apontado como "laranja" da organização criminosa. Ele empresta o nome para a abertura de uma empresa de construção civil na Junta Comercial do Rio. Já Laerte é o braço armado da quadrilha. É um dos responsáveis pelo recolhimento e repasse das taxas cobradas aos moradores e comerciantes, além da parte de agiotagem.

CONHEÇA OS ALVOS

A organização criminosa atuava em várias áreas, como venda, locação ilegal de imóveis e grilagem de terras, por exemplo. Usavam a prática de assassinatos para intimidar e se manterem no poder






Seis meses de investigação

A operação é resultado de seis meses de investigação conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) e pela 23ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal. A denúncia, com os pedidos de prisão, busca e apreensão, foi distribuída para o 4º Tribunal do Júri da Capital.

                         

A comunidade de Rio das Pedras hoje: o desmatamento em ritimo acelerado é impulsionado pela grilagem, uma das maiores fontes de lucro da milícia.

 Gabriel Monteiro / Agência O Globo
                            
Rio das Pedras é a segunda maior favela do estado, com cerca de 80 mil habitantes

 Gabriel Monteiro / Agência O Globo
                          

De acordo com delegado, quitinetes de prédios ilegais são vendidos "no osso" por R$ 45 mil

 Gabriel Monteiro / Agência O Globo
                              

                   Construção irregular flagrada durante uma operação policial na favela

 Divulgação / DPMA

A mais antiga milícia carioca segue cobrando taxas de segurança, vendendo sinais piratas de TV a cabo e desmatando áreas para construir e comercializar imóveis irregulares, entre outros crimes 

Gabriel Monteiro / Agência O Globo
                     
Em foto de 1991, operários constroem casas em área invadida de Rio das Pedras 

Carlos Carvalho em 12/04/1991 / Agência O Globo
                    
                     Barracos em área de Rio das Pedras em abril de 1991 

Carlos Carvalho em 13/04/1991 / Agência O Globo


A denúncia do MP aponta a milícia de Rio das Pedras como a responsável pela extorsão de moradores e comerciantes da região com cobranças ilegais de taxas referentes a "serviços" prestados. O grupo também oculta bens adquiridos com proventos das atividades ilícitas e falsifica documentos públicos. Para conseguir a regularização dos imóveis ilegais, o grupo montou uma estrutura hierarquizada. Cada integrante da quadrilha tem uma função. Há, por exemplo, contador e até despachantes para o pagamento de propina para agentes públicos. Até então, todas as operações policiais contra a milícia de Rio das Pedras haviam excluído os chefes da organização.

Os suspeitos foram denunciados ainda por praticar agiotagem e utilizar ligações clandestinas de água e energia, além de manter a exploração das atividades típicas das milícias para o domínio territorial: cobrança por serviços de TV a cabo ("gatonet"), gás, taxas de proteção de comerciantes e moradores e transporte alternativo. O Ministério Público do Rio constatou que nenhuma ação é feita sem o comando ou autorização dos denunciados.

Reportagem de O Globo
Chico Otavio, Vera Araújo; Arthur Leal; Gustavo Goulart; Rafael Soares e Pedro Zuazo
22/01/2019 - 07:25 / Atualizado em 22/01/2019 - 11:58

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