segunda-feira, 16 de março de 2020

Policiais acusados da morte de Claudia, arrastada por viatura, não foram julgados nem punidos pela PM

Claudia foi arrastada por 300 metros na Estrada Intendente Magalhães Foto: Reprodução

RIO — Nenhum dos policiais militares acusados do homicídio e da remoção do cadáver de Claudia Silva Ferreira , arrastada por uma viatura da PM por 300 metros na Zona Norte do Rio, foi julgado nem punido pela corporação. Nesta segunda-feira (16), o crime completa seis anos . Dois dos PMs que integravam a patrulha se aposentaram depois do homicídio. Já os outros quatro agentes seguem trabalhando nas ruas da Região Metropolitana do Rio.

O processo judicial contra o grupo anda a passos lentos na 3ª Vara Criminal da capital. Somente em março do ano passado — cinco anos após o crime —, foi realizada a primeira audiência do caso, em que foram ouvidas testemunhas de defesa e acusação. A próxima audiência, em que serão ouvidos os réus, está marcada para o próximo dia 25.


Dois dos PMs, o capitão Rodrigo Medeiros Boaventura, que comandava a patrulha, e o sargento Zaqueu de Jesus Pereira Bueno, respondem pelo homicídio de Claudia. Após as audiências, o juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira vai decidir se a dupla vai à júri popular. Já os subtenentes reformados Adir Serrano e Rodney Archanjo, o sargento Alex Sandro da Silva e o cabo Gustavo Ribeiro Meirelles respondem pelo crime de fraude processual, por terem modificado a cena do crime, removendo Claudia, já morta, do Morro da Congonha. Todos respondem ao processo em liberdade.Filha de Claudia Silva Ferreira, morta na comunidade Congonha, em Madureira, Foto : Luiz Ackermann / Extra Foto: Luiz Ackermann/15/03/2014

Já a PM nunca puniu os agentes. Desde 2014, não foi aberto nenhum processo administrativo para avaliar se os policiais têm condição de permanecer na corporação. Ao GLOBO, a PM alega que "as medidas administrativas no âmbito da corporação estarão vinculadas ao resultado do julgamento".


No entanto, segundo o Regulamento Disciplinar da PM, os processos judiciais e administrativos correm separadamente. Há diversos casos de processos administrativos abertos sem uma sentença judicial: o sargento reformado Ronnie Lessa, por exemplo, acusado do homicídio da vereadora Marielle Franco, já passa por um Conselho de Disciplina, mesmo sem ter sido condenado.

Os quatro PMs que seguem na ativa estão lotados em batalhões da Região Metropolitana e não tem qualquer restrição de atuação: podem patrulhar as ruas e até participar de operações. O comandante da patrulha foi promovido desde então: na época do crime, o capitão Rodrigo Boaventura era tenente. Hoje, ele trabalha no 41º BPM (Irajá). Dois dos PMs, o sargento Zaqueu Bueno e o cabo Gustavo Meirelles, trabalham no 7º BPM (São Gonçalo). O sargento Alex Sandro da Silva Alves trabalha no 9º BPM (Rocha Miranda), mesma unidade em que trabalhava na época do crime.PMs presos pela morte de Claudia Foto: Marcelo Carnaval

O vídeo que mostra Claudia sendo arrastada pela viatura da PM por 350 metros da Estrada Intendente Magalhães foi revelado pelo EXTRA. As imagens mostram a mulher pendurado no para-choque do veículo apenas por um pedaço de roupa. Apesar de alertados por pedestres e motoristas, os PMs não pararam. Antes Claudia havia sido baleada no pescoço e nas costas em meio a uma operação do 9º BPM no Morro da Congonha, onde morava.


A família de Claudia, cansada de conviver com a lembrança da mulher baleada a poucos metros da porta de casa, deixou a favela. O viúvo, Alexandre da Silva, e os filhos da auxiliar de serviços gerais fizeram um acordo com o governo, receberam uma indenização e se mudaram para a Zona Oeste da cidade.

Bolsonaro derrete junto com a bolsa e o coronavírus, segundo o Vox Populi


O Vox Populi tem pesquisa fresquinha sobre o derretimento da popularidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e, consequentemente, o aumento da rejeição do capitão.
O instituto garante que, hoje, os que nutrem sentimentos negativos sobre Bolsonaro são cerca do dobro daqueles que antipatizam ou desgostam do PT.
Junto com o derretimento da popularidade e da bolsa, aumento do dólar e de casos de coronavírus, Bolsonaro vai reabilitando aos poucos os petistas –que já entraram no aquecimento para 2022.
De acordo com o sociólogo Marcos Coimbra, dono do Vox Populi, na mais recente pesquisa do instituto, antibolsonaristas e antipetistas foram definidos como a soma daqueles que “detestam” ou “não gostam, sem chegar a detestar” de um ou outro.
No primeiro caso, do personagem em si, seu comportamento e as coisas que fala (dado que o capitão nem sequer está filiado a um partido). No segundo, do partido propriamente dito.
Nesses termos, são antibolsonaristas 47% dos entrevistados, enquanto 25% podem ser considerados antipetistas. Ou seja, aqueles que nutrem sentimentos negativos em relação a Bolsonaro somam cerca do dobro dos que antipatizam ou desgostam do PT. Vice-versa, 38% dizem “gostar muito” ou “gostar, sem ser muito” do PT e 28% de Bolsonaro.
Para animar os antibolsonaristas, a quebra da economia é um prato feito. Nas últimas semanas, a bolsa evaporou 50% dos valores das empresas brasileiras; o Dólar disparou acima de cinco reais, fazendo da moeda local a pior do mundo (mais desvalorizada); e o aumento dos casos de coronavírus também assusta porque o governo não tem um plano de contingência unificado.

Jovem que gritou "fora Bolsonaro" leva tiro na perna de manifestante fascista em ato na Paulista

247 - Uma jovem que transitava na Avenida Paulista neste domingo (150, durante o ato bolsonarista pelo fim das instituições, levou um tiro na perna de um manifestante quando gritou “fora Bolsonaro” no local. 
A vítima de arma de fogo foi levada ao Hospital das Clínicas, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo. O caso foi encaminhado ao 78º Delegacia de Polícia (DP) , nos Jardins.
Veja: 

Três "cidadãos de bem" bolsonaristas, se unem para espancar covardemente um homem na Avenida Paulista

Apoiador do ato pró-bolsonaro agride homem na rua. Data: 15/03/2020. Local: Avenida Paulista. São Paulo. Foto: Sérgio Silva | Ponte Jornalismo
PUBLICADO NA PONTE
POR PALOMA VASCONCELOS E SERGIO SILVA
Briga e tiro marcam ato pró-governo de Jair Bolsonaro (sem partido) na avenida Paulista, na região central da cidade de São Paulo, neste domingo (15/3). Apesar da preocupação com a pandemia do coronavírus, atos a favor do presidente aconteceram normalmente por todo o país.
Em São Paulo, a manifestação terminou em confusão. Segundo a Folha, uma pessoa foi baleada na confusão. Em um vídeo postado no Twitter, é possível ver o momento em que um homem com a camiseta do Flamengo efetua um disparo em frente ao shopping Center 3. De acordo com a CNN, o atirador é um policial reformado.
O caso está sendo investigado no 78° DP (Jardins). A Ponte entrou em contato com a delegacia e, ao telefone, um policial afirmou que “as informações estão sendo passadas pela assessoria da Secretaria de Segurança Pública de SP”.
A reportagem procurou a Secretaria da Segurança Pública para saber mais informações sobre a ocorrência, mas, até o momento de publicação, não obteve retorno.
Um vídeo divulgado no Twitter mostra uma discussão e um homem com a camiseta do Flamengo com uma arma na mão. O vídeo registra o momento que esse homem dispara. Na sequência, é possível ouvir muita discussão e ofensas entre o homem e as pessoas que passavam na rua.
Em outro ponto da avenida também teve confusão. Três apoiadores de Bolsonaro agrediram um homem que passava pelo ato.
A briga aconteceu na esquina com a rua Frei Caneca, por volta das 18h. Segundo relatos ouvidos pela Ponte, a briga começou quando o homem agredido esbarrou nos três homens de amarelo.
Um dos agressores segura uma bandeira | Foto: Sérgio Silva/Ponte Jornalismo
Um dos apoiadores do presidente dá um soco no jovem sem camisa que caiu no chão. Eram três contra um. O homem que apanhou revidou o soco. Foi quando os outros dois homens foram para cima, dando socos e chutes.
Segunda agressão, depois que o homem sem camisa levanta para revidar | Foto: Sérgio Silva/Ponte Jornalismo
O homem agredido saiu com um corte na boca, joelho sangrando e o dedo inchado. Questionado sobre o motivo das agressões, um dos homens de amarelo afirmou que teria sido agredido primeiramente, mas a reportagem viu o momento que o homem dá o primeiro golpe. O jovem agredido não quis se manifestar.

Momento em que o terceiro homem agride o jovem caído no chão | Foto: Sérgio Silva/Ponte Jornalismo

domingo, 8 de março de 2020

Professor deixa formatura escoltado após discurso sobre ataques à imprensa

Jair Bolsonaro e humorista - Reprodução/Redes Sociais
PORCongresso em foco

Na formatura do curso de jornalismo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) realizada na sexta-feira (7), em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, o paraninfo da turma deixou o auditório escoltado por seguranças após fazer um discurso crítico aos repetidos ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à imprensa.

O discurso do professor Felipe Boff foi abafado por vaias e agressões verbais vindas da plateia, proferidas pelos convidados dos 21 jornalistas formandos.

No discurso, Boff elencou diversos episódios de desrespeito de Bolsonaro ao jornalismo e afirmou que “a imprensa brasileira vive seus dias mais difíceis desde a ditadura militar”.

A reação da plateia fez com que seguranças da universidade que trabalhavam no evento escoltassem o professor ao fim da cerimônia para evitar que ele fosse agredido por alguns dos amigos e familiares de seus alunos.

Ao comentar o assunto, Boff afirmou que a reação de parte da plateia – “algumas pessoas pouco afeitas à liberdade de expressão e à democracia”, nas palavras do professor – reforçou exatamente aquilo que foi dito em seu discurso.

Leia a íntegra do discurso do professor Felipe Boff

"A imprensa brasileira vive seus dias mais difíceis desde a ditadura militar. Entre 1964 e 1985, jornalistas foram censurados, perseguidos, presos, torturados e até assassinados, como Vladimir Herzog. Hoje, somos insultados nas redes e nas ruas; perseguidos por milícias virtuais e reais; cerceados e desrespeitados por autoridades que se sentem desobrigadas de prestar contas à sociedade. Todos sabem – mesmo aqueles que não acompanham as notícias – quem é o principal propagador dessa ameaça crescente à liberdade de imprensa. É o mesmo que também considera como inimigos os cientistas, professores, artistas, ambientalistas – como se vê, estamos bem acompanhados.

No ano passado, segundo levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas, o presidente da República atacou a imprensa 116 vezes em postagens nas suas redes sociais, pronunciamentos e entrevistas. Um ataque a cada 3 dias.

Querem exemplos? "É só você fazer cocô dia sim, dia não." "Você está falando da tua mãe?" "Você tem uma cara de homossexual terrível." "Pergunta pra tua mãe o comprovante que ela deu para o teu pai." É dessa forma chula e rasteira que o presidente da República, a maior autoridade do país, costuma responder aos jornalistas. Seus xingamentos tentam desviar a atenção das respostas que ele ainda deve à sociedade. Nos casos citados, explicações sobre o retrocesso da preservação ambiental no país, sobre os depósitos do ex-assessor Fabrício Queiroz na conta da hoje primeira-dama, sobre o esquema da “rachadinha” de salários no gabinete do filho hoje senador, sobre o envolvimento da família presidencial com milicianos.

O presidente das fake news, que bate na imprensa cada vez que ela informa um fato negativo sobre ele e seu governo, é o mesmo que deu 608 declarações falsas ou distorcidas – quase duas por dia – ao longo de 2019. O levantamento é da agência de checagem Aos Fatos. Querem exemplos? “O Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente no mundo.” “Leonardo Di Caprio tá dando dinheiro pra tacar fogo na Amazônia.” “O Brasil é o país que menos usa agrotóxicos.” “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira.” “Nunca teve ditadura no Brasil.”

Em 2020, depois de completar um ano de mandato com resultados pífios na economia e desastrosos na educação, na cultura, na saúde e na assistência social, o presidente não serenou. Redobrou os ataques à imprensa. Aplicou o duplo sentido mais tosco à expressão jornalística “furo” para caluniar a repórter que denunciou a manipulação massiva do WhatsApp na campanha eleitoral. Atacou outra jornalista, mentindo descaradamente, para negar a revelação de que compartilhou vídeos insuflando manifestações contra o Congresso e o STF.

E segue promovendo o boicote à imprensa, com exceção daqueles que aproveitam o negócio de ocasião para vender subserviência e silêncios estratégicos. Aos veículos que não se dobram ao seu despotismo, o presidente da República impinge pessoalmente retaliações financeiras diretas, pressão sobre anunciantes e difamação de seus profissionais. Pratica, enfim, toda sorte de manobras sórdidas para tentar asfixiar o jornalismo e alienar a população dos fatos. E já nem se preocupa em disfarçar suas intenções. Querem um último exemplo? Declaração de 6 de janeiro deste ano, dita pelo presidente aos jornalistas “Vocês são uma raça em extinção”.

Não, presidente, não somos uma raça em extinção. Ao contrário. Somos uma raça cada dia mais forte, mais unida, mais corajosa, mais consciente. Basta olhar para estes 21 novos jornalistas que estamos formando hoje. Basta ler os dizeres na camiseta deles: “Não existe democracia sem jornalismo”.

Esta é a mensagem a ser destacada nesta noite: quando tenta calar e desacreditar a imprensa, o atual presidente da República ameaça não só o jornalismo e os jornalistas. Ameaça a democracia, a arte, a ciência, a educação, a natureza, a liberdade, o pensamento. Ameaça a todos, até aqueles que hoje apenas o aplaudem – estes, que experimentem deixar de bater palma para ver o que acontece.

Para encerrar, gostaria de citar o exemplo e as palavras do grande escritor e jornalista argentino Rodolfo Walsh. Precursor da reportagem literária e investigativa e destemida voz contra o autoritarismo e o terrorismo de Estado, Walsh pregava que “Ou o jornalismo é livre, ou é uma farsa, sem meios-termos”. Dizia também que “um intelectual que não compreende o que acontece no seu tempo e no seu país é uma contradição ambulante; e aquele que compreende e não age, terá lugar na antologia do pranto, não na história viva de sua terra”.

Rodolfo Walsh foi sequestrado e assassinado pela ditadura argentina em 25 de março de 1977. Na véspera, publicara corajosamente uma “carta aberta à junta militar”, denunciando os crimes do sanguinário regime, que então completava apenas seu primeiro ano. Estas foram as últimas palavras que Walsh escreveu: “Sem esperança de ser escutado, com a certeza de ser perseguido, mas fiel ao compromisso que assumi, há muito tempo, de dar testemunho em momentos difíceis”.